quarta-feira, junho 20, 2007

UM SORRISO NA CARA

Retirei do jornal destak, da secção de "instantes", um texto brilhante, profundo e sem pretensões, da apresentadora de televisão e escritora Luísa Castel-Branco. Decidi colocá-lo aqui, porque me parece que esta reflexão podia ser minha, ou de tantas outras boas pessoas que conheço...

UM SORRISO NA CARA

"Vou sair a porta da rua com o coração ao alto, a segurar o fio, e o meu coração a rir lá em cima. Amanhã, vou dizer bom dia a toda a gente. Não interessa que ninguém responda, não quero saber. Depois, quando for almoçar, vou sentar-me num jardim, onde as crianças brinquem e os velhos joguem às cartas, e vou contar as folhas novas e os rebentos que começam a nascer. Amanhã, quando alguém falar comigo, vou ser doce como mel e afável como um gato aninhado à lareira.
Amanhã, vou reparar em cada um dos pormenores do caminho que faço todos os dias e nunca vejo nada, nunca reparo em nada. Vou olhar as roupas estendidas nas cordas, a dançarem ao vento. E imaginar quem lá mora, e sonhar a vida por detrás das cortinas... Vou apanhar o eléctrico 28, para poder lamber Lisboa. Para saborear os cheiros e espreitar as praças e ruelas.Vou fechar os olhos quando o eléctrico descer a caminho da Baixa, a caminho do rio, e sonhar que vou mergulhar no Tejo e falar com os peixes e encontrar caravelas perdidas e sereias encantadas.
Amanhã, vou escolher com cuidado e desvelo a roupa que vestirei. Vou pôr um lenço garrido ao pescoço, vestir um vestido com flores. E depois, quando o final do dia abordar a cidade, vou sentar-me num café, ali para o Castelo, ou em Santa Catarina, e saborear um gelado, mesmo que esteja frio ou chova. E depois, quando finalmente meter a chave à porta, cansada e saciada, não vou mais chorar por a casa estar vazia e morta sem ti."

Sem palavras...

2 comentários:

Anónimo disse...

só uma pergunta... e isso resulta? ou continua-se na mesma

RaquelM disse...

Anónimo:

Resulta sim, obviamente que não é de um dia para o outro que se esquece tudo, mas aos poucos "(...)já não se chora por a casa estar morta (...)sem a tal pessoa. E é óptimo ter esta mentalidade!