segunda-feira, outubro 15, 2007

Amizade


"Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades, até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: - Quem são aquelas pessoas? - diremos que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Fernando Pessoa

5 comentários:

Anónimo disse...

É deprimente pensar assim. Acho que das poucas coisas que dão sentido à nossa vida é a possibilidade de podermos existir com os outros, de nos darmos aos outros. Pensar que mais tarde ou mais cedo todos se irão separar...
Enfim, eu sei que o moral disto é que os verdadeiros amigos ficam sempre, mas às vezes nem isso é assim. Nunca podemos dar nada por garantido e há que lutar pelas amizades todos os dias para que perdurem enquanto nós durarmos.
Gostei do texto, fica bem

Anónimo disse...

"um dia..." engraçado como esse dia por vezes chega tao depressa. quando menos se espera ou mais se precisa, onde estao os amigos? por vezes ais vale poucos mas bons...pelo menos e o que a maioria pensa. o passado ao passado pertence. quando se quebra uma amizade perde-se um pouco de nos. onde esta aquele amigo tao especial? Uma amizade e um bem precioso quando se quebra partye-se aquela confiança que nos mantem alegres...o que e pode fazer? segir em frente e tentar acertar melor na proxima. mas aquele vazio e aquela saudade permanecem... quand tal acontece nao ha muito a fazer, e o mesmo que colar um copo com fita cola, a agua sai sempre quando se enche o copo. E triste, muito triste...mas sao as opçoes que tomamos.

Anónimo disse...

Descreveste na perfeição "colar um copo com fita cola". Infelizmente é assim mesmo

Anónimo disse...

pois...
parece que é nestas coisas das relações (as melhores que a vida traz) que a lei da entropia se aplica com mais força.
a lei da entropia diz que todos os sistemas tendem a assumir o estado de energia mais baixo. Traduzido em miúdos significa que Para baixo todos os santos ajudam, que o nosso quarto tende à desarrumação, que as boas coisas tendem a degradar-se.
E, contudo...
a entropia pode ser contrariada.
Deve sê-lo.
As coisas importantes são éticas. São mais da ordem do "dever ser" do que da mera factualidade.
Nas relações há mal-entendidos, afastamentos preguiçosos, conflitos...
Mas uma visão ética da vida leva-nos a agir contrariando isso.
As alternativas seriam:
a) relações tangenciais.
Assumir que as relações não são para durar. Seriam apenas tangenciais, tocando-se apenas um momento e seguindo a seguir,inevitavelmente cada um o seu caminho.

b) Esperar pela relação perfeita.
Bem podes esperar sentada!

Sinceramente são alternativas pobres.
Prefiro a humildade de ir tecendo, com avanços e recuos, relações sólidas. Onde há a capacidade de recomeçar.
Isso levanta outra questão: teremos nós os recursos para recomeçar? Para perdoar, para pedir perdão, para ir mais longe e procurar entender a língua (= o universo simbólico)do outro?
A partir da minha experiência de fé diria que sim. Fora da fé, também acho que sim, embora sinta que tenho menos autoridade para o fazer.

Anónimo disse...

É bem verdade, como alguém disse mas não me lembro quem, que as amizades são como as flores, precisando de ser regadas, de tempos a tempos.

Por uma razão ou por outra, saltam da nossa vida pessoas que, numa dada altura da nossa existência, faziam parte, constantemente, do nosso pensamento.

Mas, mesmo depois da separação, sabemos, sempre, pelo menos falo por mim, quem realmente são os nossos amigos.

Toda esta conversa para dizer que realmente o que conta nesta vida são as pessoas com quem nos cruzamos e que, por alguma razão, nos tocaram de uma forma especial. Por essas vale, sempre, apena lutar, seja em que altura for.