quinta-feira, novembro 20, 2008

Transplante de Traqueia já é possível!

"Transplante com traqueia feita à medida da paciente ANA BELA FERREIRA

Em Barcelona, foi realizado o primeiro transplante de traqueia com recurso a células estaminais da própria doente. Todas as células do órgão do dador foram retiradas e substituídas por células criadas em laboratório a partir das recolhidas da paciente. Técnica pode ser realizada em Portugal
O transplante pioneiro de traqueia com uso de células estaminais da própria paciente, realizado em Espanha, poderia ser feito em Portugal, já que também dispomos dos meios técnicos necessários para a intervenção. Mas, o presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), António Morais Sarmento, alerta que o elevado custo da tecnologia necessário "pode não compensar quando apenas se fazem duas intervenções por ano".A colombiana Claudia Castillo, 30 anos, foi submetida, em Junho, a um inovador transplante de traqueia que não implica o uso de medicamentos que evitam a rejeição dos órgãos. Um processo que envolveu investigadores espanhóis, ingleses e italianos.

A traqueia transplantada foi "fabricada" à medida da paciente, através do uso das suas próprias células estaminais graças às quais não precisa de medicamentos imuno-supressores, que podem causar hipertensão, insuficiência renal e cancro.Depois de encontrado o dador de traqueia, os investigadores da Universidade de Pádua, em Itália, retiraram-lhe todas as células, reduzindo-a a um simples tubo de tecido. Enquanto isso, na Universidade de Bristol, Reino Unido, era recolhida uma amostra da medula óssea de Claudia Castillo para converter as células estaminais em milhões de células de cartilagem e epiteliais (células que cobrem os órgãos), que revestiriam a traqueia retirada do dador. Para completar o fabrico da "nova" traqueia, a Universidade de Milão, Itália, usou um bio-reactor para colocar as novas células na traqueia a ser transplantada. Para completar o processo, a equipa de cirurgia torácica do Hospital Clínico da Universidade de Barcelona (Espanha), chefiada por Paolo Macchiarini, realizou a intervenção.

A tecnologia necessária para cirurgia e a escassez de casos em Portugal, fazem com que este método não seja para aplicar, por enquanto, apesar do sucesso reconhecido. O transplante foi apenas "um caso específico e envolveu custos muito elevados, por ter resultado do trabalho de equipas de três países", referiu à Lusa Domingos Henrique, coordenador da Unidade de Biologia de Desenvolvimento do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
O especialistas frisou, no entanto, que a técnica utilizada "representa uma parte do futuro da Medicina".Também o presidente da SPT considera que "o custo de criar esta tecnologia e das equipas que fazem estas intervenções, para fazer duas cirurgias por ano, não compensa". Mas, António Morais Sarmento ressalva que "a técnica é muito bonita e se resultar em mais pessoas é possível que grupos em Portugal que se entusiasmem e comecem a usar esta técnica".
Quatro meses após o transplante, os médicos dizem que Claudia Castillo já pode tomar conta das filhas, de 15 e quatro anos, subir as escadas e caminhar distâncias razoáveis sem ter falta de ar. A paciente contraiu uma tuberculose, há quatro anos, que lhe deixou graves lesões na traqueia e dificuldades respiratórias. Antes de partir para o transplante, os médicos chegaram a ponderar tirar o pulmão da colombiana. "

(in Expresso)


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