sexta-feira, dezembro 12, 2008

Entre o Espaço - Poema

Hoje apetece-me agarrar o vento
que espreita e derruba a minha janela,
apetece-me agarrar o fogo
que arde incessante na minha alma.

De repente olho o quadro,
aquele que um dia foi meu
e brotou das minhas mãos
como quem solta um pássaro,

está diferente...
incompleto
como todas as obras,
frio
como os dias de inverno,
preciso colori-lo
com calor humano.

Olho-me ao espelho
estou despida,
sem frio nem calor,
estou eu sem mais nada,
estou livre, solta
como quem levita no espaço
e não pretende aterrar,
sou eu, e isso basta.

Raquel M. (Dezembro 2008)

1 comentário:

ruisdb disse...

sou eu, e isso basta.
Esta frase assim, fora do contexto é... perturbadora.
Parece ser uma verdade absoluta, evidente, incontestável.
Mexer com ela será sempre visto como tentativa de manipulação, de controle da alteridade do outro.
E, contudo...
Ser eu, não me basta.
Sou eu, numa lina de "tus".
Sou eu, numa linha de tempo em que o eu mais verdadeiro é aquilo que estou chamado a ser. nem o meu presente. nem o passado que me deram.